sexta-feira, 18 de julho de 2008

O Foda-se!




"O nível de stress de uma pessoa é inversamente proporcional a quantidade de foda-se! que ela fala. Existe algo mais libertário do que o conceito do foda-se!? O foda-se! aumenta minha auto-estima, me torna uma pessoa melhor. Reorganiza as coisas.Me liberta. Não quer sair comigo? Então foda-se !. Vai querer decidir essa merda sozinho (a) mesmo? Então foda-se!. O direito ao foda-se! deveria estar assegurado na Constituição Federal.

Os palavrões não nascem por acaso. São recursos extremamente válidos e criativos para prover nosso vocabulário de expressões que traduzem com maior fidelidade nossos mais fortes e genuínos sentimentos. É o povo fazendo sua língua. Como Latim Vulgar, será esse Português Vulgar que vingará plenamente um dia.

Prá caralho por exemplo. Qual expressão traduz melhor a idéia de muita quantidade do que o prá caralho? Pra caralho tende ao infinito, é quase uma expressão matemática. A Via-Láctea tem estrelas prá caralho, o universo é antigo prá caralho, eu gosto de cerveja prá caralho, entende?

No gênero do prá caralho, mas, no caso, expressando a mais absoluta negação, está o famoso Nem fodendo!. O não, não, não! e tampouco o nada eficaz e já sem nenhuma credibilidade Não, absolutamente não! o substituem. O nem fodendo é irretorquível, e liquida o assunto. Te libera, com a consciência tranqüila, para outras atividades de maior interesse em sua vida. Aquele filho pentelho de 17 anos te atormenta pedindo o carro pra ir surfar no litoral? Não perca tempo nem paciência. Solte logo um definitivo "Marquinhos presta atenção, filho querido, NEM FODENDO!". O impertinente se manca na hora e vai pro Shopping se encontrar com a turma numa boa e você fecha os olhos e volta a curtir o CD do Lupicinio.

Por sua vez , o porra nehuma! atendeu tão plenamente as situações onde nosso ego exigiria não só a definição de uma negação, mas também o justo escárnio contra descarados blefes, que hoje é totalmente impossível imaginar que possamos viver sem ele em nosso cotidiano profissional.
Como comentar a gravata daquele chefe idiota senão com um PHD porra nenhuma! ou ele redigiu aquele relatório sozinho porra nehuma!. O porra nenhuma, como vocês podem ver, nos provê sensações de incrível bem estar interior. É como se estivéssemos fazendo a tardia justa denúncia pública de um canalha. São dessa mesma gênese os clássicos aspone, chepone, repone e mais recentemente, o prepone - presidente de porra nenhuma. Há outros palavrões igualmente clássicos.
Pense na sonoridade um Puta-que-o-pariu!, ou seu correlato Puta-que-o-pariu!, falamos assim, cadenciadamente, sílaba por sílaba...
Diante de uma notícia irritante qualquer puta-que-o-pariu! dito assim te coloca outra vez em seu eixo. Seus neurônios têm o devido tempo e clima para se reorganizar e sacar a atitude que lhe permitirá dar um merecido troco ou safar de maiores dores de cabeça.

E o que dizer de nosso famoso vai tomar no cú!? E sua maravilhosa e reforçadora derivação vai tomar no olho do seu cú!. Você já imaginou o bem que alguém faz a si próprio a aos seus quando, passado o limite do suportável, se dirige ao canalha de seu interlocutor e solta: "Chega! Vai tomar no olho do seu cú!". Pronto,você retomou as rédeas de sua vida, sua auto-estima. Desabotoa a camisa e sai a rua, vento batendo na face, olhar firme, cabeça erguida, um delicioso sorriso de vitória e renovado amor-íntimo no lábios.

E seria tremendamente injusto não registrar aqui a expressão de maior poder de definição do Português Vulgar: Fodeu!. E sua derivação mais avassaladora ainda: Fodeu de ves!. Você conhece definição mais exata, pungente a arrasadora para uma situação que atingiu o grau máximo imaginável de ameaçadora complicação? Expressão, inclusive, que uma vez proferida insere seu autor em todo um providencial contexto interior de alerta e autodefesa. Algo assim como quando você está dirigindo bêbado, sem documento do carro e sem carteira de habilitação e ouve uma sirene de polícia atrás de você mandando você parar: O que você fala? "Fodeu de vez!".

"Liberdade, igualdade, fraternidade e foda-se...!"

( atribuído a Millôr Fernandes)

2 comentários:

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...

Adorei o texto...muito legal, pra dizer a verdade, o mais foda da nossa língua, são os palavrões que a torna a língua mais engraçada do mundo, sei lá, não sou nenhum conhecedor de várias linguas, mas os tons que os palavrões brazucas possuem são absurdos...é quase impossivel não rir quando se vê dois individuos conhecidos ou não, se xingando com palavrões...huáh!!